A China é um verdadeiro dragão entre as nações. A cada ano que passa esse país fica maior e mais importante dentro do cenário político e econômico global. Boa parte desse sucesso internacional tem origem em uma cidade portuária que há alguns anos era uma pequena vila de pescadores e hoje é uma metrópole de mais de 12 milhões de habitantes: Shenzhen.
Localizada na província de Guangdong, essa cidade é considerada o Vale do Silício Chinês. Isso ocorre porque Shenzhen não é apenas a sede de grandes corporações de tecnologia da China, como Huawey, ZTE, DJI e Tencent mas, também, por comportar muitas empresas de inovação. O próprio governo chinês oferece subsídios para quem quer investir em tecnologia e novos produtos.
Shenzen foi a primeira Zona Econômica Especial da China. As ZEEs surgiram no final dos anos de 1970 como uma política de estímulo à economia formulada pelo então presidente da China Deng Xiaoping. Nessa cidade, a ZEE foi implementada com tanto sucesso, que a população cresceu mais de 5000% e o PIB de Shenzhen deu um salto de mais de 9000%, chegando a U$ 338 bilhões. Em termos mundiais, sua robustez econômica equivale ao PIB da Irlanda e, até 2025, será superior à da cidade de Hong Kong.
O segredo do sucesso do Vale do Silício Chinês talvez esteja no alto investimento que a região faz em pesquisa e desenvolvimento. Cerca de 4,3% de seu PIB é investido nessa área. Trata-se da cidade que mais investe em tecnologia em todo território chinês e da maior fabricante de eletrônicos de toda a Ásia.
Todo esse sucesso faz com que Shenzhen receba muitos migrantes. Trabalhadores de toda China preferem tentar a vida por lá e muitos fazem fortuna ali. E não só chineses, profissionais e empresários de diferentes lugares do mundo se mudaram para o Vale do Silício Chinês na tentativa de crescer financeiramente nessa região tão acolhedora à empreendedores. Essa é uma das poucas cidades na China onde não há discriminação pelo seu local de nascimento, sendo que a palavra forasteiro não é usada em Shenzhen, por exemplo. A receptividade a quem é de fora começa logo na chegada à cidade. No aeroporto é possível ler em inglês a frase “Você vem para Shenzhen, você é de Shenzhen”.
Ali há um lugar chamado rua dos eletrônicos. Trata-se de uma longa avenida em que é um verdadeiro paraíso para quem gosta de gadgets e novas tecnologias. São centenas de lojas que vendem de tudo em eletrônicos dividindo a área com estúdios e fábricas. É o local preferido dos chamados “makers”, profissionais que possuem uma excelente capacidade de inovar para inventar novos equipamentos e produtos e tornarem-se os homens de negócios tão apreciados na China de hoje. O próprio governo chinês oferece apoio a esses engenheiros, seja com financiamentos ou com redução de impostos.
Há empresas em Shenzhen que são especializadas em fornecer – gratuitamente – todo o suporte necessário para esses criadores de tecnologias, como local para criar e desenvolver os produtos, água e energia elétrica. O retorno é um percentual no valor de venda desses novos engenhos. É um verdadeiro berçário de startups.
O Vale do Silício da China é uma das fontes de novidades que serão vendidas em sites como os da Amazon ou os da chinesa Taobao. Os agentes dessas empresas procuram em Shenzhen gadgets ou outras boas ideias com potencial para aumentar suas vendas online. Para isso, vale pedir uma adaptação dos produtos para os mercados ocidentais e, assim, agradar aos clientes, ou até mesmo criar embalagens mais apropriadas ou atraentes para esses produtos.
É possível encontrar, também, nessa cidade um lado um pouco mais obscuro da tecnologia, que é a falsificação. Muitas empresas de dentro e fora da China, utilizam da variedade de oferta de componentes eletrônicos em Shenzhen e da mão de obra especializada para montar cópias idênticas – de telefones, caixas e outros produtos – de marcas conhecidas e famosas, com a diferença de oferecerem preços muito mais baixos que os produtos originais. Está aí um dos motivos para que as grandes corporações mantenham segredos sobre a tecnologia de seus produtos e se preocupem tanto com a espionagem industrial, sendo que nas grandes corporações os funcionários não podem utilizar no espaço da fábrica seus celulares ou suas câmeras.
Agora você já conhece um pouco mais sobre o chamado Vale do Silício Chinês. Quem sabe se o seu celular ou algum gadget que você gosta não foi fabricado lá? Se na caixinha dele estiver escrito “Made in China” é bem provável que venha desse Vale do Silício oriental.
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Irandy Marcos Cruz
CEO da Kaptiva
Murilo lima
A publicação foi muito interessante além de ser bem explicativa, parabéns ao redator!